Tubarões da Baía da Ilha Grande

Tubarões da Baía da Ilha Grande

Eles sempre estiveram lá!

Não lembro o ano em que conversando com meu amigo mergulhador de longa data, (mais um “Véio do Mar” né Maiara?) mas certamente lembro em detalhes o que Miguel Mangangá me contou naquele almoço em frente à saudosa Divers Quest, no Leblon, onde vez por outra almoçava com Miguelito, Dudu e outros por lá.

Miguel me conta que anos atrás ele e um grupo de caçadores submarinos estavam numa ponta de ilha lá, caçando quando um viu tubarão enorme indo na direção dele, o que o fez subir em alta velocidade para a superfície e praticamente correr sobre as águas para cima do barco deles. Depois mais um, e mais um até todos terem saído da água, de uma forma ou outra, mas todos com medo e na maior pressa. Isso fez o Velho Jamanta dar uma bronca em todos, pegar máscara e snorkel de um e pular na água para ver. Ao subir apenas alguns segundos depois, já foi tirando a máscara e dando uma bronca em todos: “Deixem de medinho e frescura, isso é Serra Garoupa, o bicho é inofensivo, não faz mal a ninguém!”
Bom, os caras desceram de novo, mais por vergonha da bronca do que por convicção e seguiram pescando, vez por outra passando por um ou outro tubarão no canto da máscara.
Era inverno, época de férias e como este grupo de amigos constantemente ia no mesmo ponto, acabaram de acostumando a ver estas tubarôas, sim a maioria fêmeas e prenhas, sempre na mesma época. O que mesmo quando não mergulhavam, se comprovava pela presença da espécie tanto grandes como filhotes nas peixarias da região.

E isso nunca foi problema nenhum!

Na época destes relatos, eu provavelmente morava em Recife ou Manaus (outras boas histórias), e só vim a ter contato mesmo com a história das Mangonas, como são chamadas na região e confirmadas pela descrição da aparência e presença nas peixarias, a quase uns 20 anos atrás.

Acontece que tanto tubarões como raias, suas primas achatadas, estão com a maioria das espécies ameaçadas de alguma forma de extinção. E infelizmente isto não é diferente para as mangonas (criticamente ameaçadas) e nem para os Galhas Pretas (ameaçados), cuja presença recentemente foi registra pelos Drones do Instituto Mar Urbano, parceiro do projeto.

Sei que já tem alguém pensando aí: “Nossa, tubarões dentro da baía…. onde será que é, para a gente evitar ir e não ser atacado”. Hora, eles sempre estiveram aí, e isso nunca foi problema para ninguém!

Em busca de proteção aos tubarões

Eu repetia a história das Mangonas prenhas no inverno em toda oportunidade que podia, seja para canal de tv, documentaristas, patrocinadores, sempre buscando ferramentas para proteger estes animais tão tranquilos, bonitos mas que no final das contas são pescados tão intensamente o interior da Baia da Ilha Grande. E mesmo sendo fêmeas e grávidas, são mortas da mesma forma, e o filhote, caso ainda no interior da mãe, é retirado ainda não nascido e vendido igual.

Contei esta história a alguns anos para o co fundador da Divers for Sharks e meu amigo José Truda Palazzo, que seguiu comigo tentando proteger estes animais. Contei ainda para a então graduanda em biologia Maiara Pimenta, que acreditou na gente, e por ser filha de pescadores de Tarituba, interior da Baía da Ilha Grande, recebeu a ideia como missão e fez o TCC dela sobre o tema.

E seguindo as dicas da Maiara, chegamos eu e Truda a relatos caiçaras de que lá que pelos anos de 1930 a 1950, todo ano um navio português vinha até a entrada da Baía da Ilha Grande, na altura de Paraty e mandava um Hidroavião até a vila de pescadores de Tarituba para negociar tubarões. Cada vez que o hidroavião estava cheio, voava até o navio, descarregava e voltava para a vila, repetindo o procedimento até encher o porão do navio de charutos de tubarão (como é chamado o animal depois de ter a cabeça e nadadeiras cortadas e eviscerado) e suas barbatanas. Uma vez cheio, voltava para Portugal e ano seguinte, de novo no inverno, aparecia na ilha de novo.
Tarituba - Google Maps

A esperança está lá fora

A cada ano que passava, frustração atrás de frustração com produtoras de cinema, de TV, etc e tal, sempre dizendo que iam porque iam fazer o trabalho com a gente, até que logo depois de contarmos a história toda, vinha das produtoras: Ótimo, que excelente ideia, agora quem é que vocês vão conseguir para pagar isso, porque a nossa parte vai sair cara… Nunca respondi o que me vinha à cabeça e dava vontade.

Até que quase caindo do céu, através do IBRACON, conseguimos contato e posterior apoio e patrocínio do Shark Conservation Fund, o que permitiu o início do Projeto Tubarões da Baía da Ilha Grande, nas mídias sociais #TubarõesDaBig, que pelos próximos 27 meses irá buscar, registrar e trabalhar para proteger estes magníficos animais!

Junte-se a nós e ajude cada vez mais os tubarões da Baía da Ilha Grande!
Tubarões da Big
Créditos