Já mergulhei algumas vezes com tubarões em águas brasileiras e águas internacionais. Não tanto quanto eu gostaria e nem com todas as espécies que eu tanto quero ver. Em Fernando de Noronha já fui atrás de uma tubarão limão de mais de dois metros e grávida, sendo chamado depois de maluco pela guia do mergulho. Em outra vez já estive rodeado por 7 tubarões bico fino. Nunca tive nenhum problema, incidente ou acidente com estes magníficos animais. Quem dirá ataques então. Ainda quero, e muito, mergulhar com tubarões brancos, martelos e cabeça chatas. E sem jaulas.
Já morei em Recife quando criança (é, fazem mais de 40 anos já…) e justamente no prédio atrás do Castelinho, onde vez por outra ouvimos uma notícia sensacionalista sobre tubarões, nitidamente querendo fazer ibope pelo medo e terror falsificados. Quando criança, em Recife, nadava e passava da arrebentação sem problema, medo ou stress nenhum. Recife pode até ser um caso à parte. Lá foi criada a entidade oficialmente pelo estado em 2004 para estudar o acontecido por lá, o CEMIT: Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões. INCIDENTES…
Segue nosso texto então, traduzido, adaptado e comentado a 4 mãos!
Publicado originalmente no Blog Imensidão – Jornal O Globo On Line
O website UnderWaterTimes.com publicou um texto comentando o artigo “Science, policy, and the public discourse of shark “attack”: a proposal for reclassifying human–shark interactions” (“Ciência, política e o discurso público do ‘ataque’ de tubarão: uma proposta para reclassificar as interações entre humanos e tubarões”) do “Journal of Environment Studies and Sciences”. Download do artigo aqui.
Adicionando-se informações ao que foi exposto, ataques de tubarões a humanos não são um fenômeno recente. Os primeiros registros datam da Grécia Antiga, por volta de 500 a.C. Mais recentemente, apesar do impacto da pesca nas populações de tubarões, o mundo tende ao uso recreacional mais intenso de águas marinhas, o que ampliou as chances de interações entre humanos e tubarões e resultou no aumento do número total de ataques. Após a II Guerra Mundial houve uma expansão gradual dos ataques, além de sua relevância militar por estarem relacionados aos desastres aéreos e marítimos durante a guerra, fazendo com que o U.S. Office of Naval Research (Centro de Pesquisa Naval dos Estados Unidos) estabelecesse um Arquivo Internacional de Ataques de Tubarões, em 1958. Atualmente, esse arquivo está depositado no Museu de História Natural da Flórida, na Universidade da Flórida, sob os cuidados da Sociedade Americana de Elasmobrânquios (Hazin et al.,
2008).
No estudo, os autores analisaram estatísticas de tubarões ao redor do planeta e perceberam que a expressão “ataque de tubarão” era enganosa em vários casos. Por exemplo, um relatório governamental de 2009 de New South Wales, Austrália, documentou 200 ataques de tubarões – porém, 38 desses não envolviam ferimentos a pessoas. Na Flórida, geralmente chamada de “Capital do Mundo de Ataques de Tubarões” devido ao número de ataques de tubarões relatados, somente 11 mordidas fatais foram registradas nos últimos 129 anos – um número menor que várias outras localidades no mundo e infinitamente menor que as mortes causadas por outros eventos naturais, como afogamento e raios (UnderWaterTimes.com).
Ok, aqui eu sou obrigado a entrar e comentar… Não se importuna moréias, baiacús, peixes, caranguejo aranha e nenhum outro animal. Primeiro pelos próprios direitos dos animais a viverem a sua vida e não estarem lá para servirem de entretenimento para outra espécie animal, no caso a humana. E ainda mais cutucar e provocar um tubarão… meus amigos, me pedoem o que vou falar mas: pediram né? Cutuca o animal ele reage (REAGE, não é ele age e ataca é ele REAGE) e aí pronto… mais estatística para o lado negro.
Paulo Guilherme "Pinguim"
Uma possível causa para o surto de ataques de tubarões pode ter sido a construção de instalações portuárias, o Porto de Suape, situado ao sul de Recife e no estuário do Rio Jaboatão. Áreas portuárias são geralmente conhecidas por terem um maior risco de ataques de tubarões. Antes da construção, quatros rios convergiam para a Baía de Suape. Após finalizada a construção do porto, dois rios tiveram suas conexões com o mar interrompidas por aterros, que resultaram em alagamentos periódicos dos campos agricultáveis. Para solucionar esse problema, o governo demoliu parte do recife de corais. Essa medida aliviou os alagamentos, mas teve efeito na acessibilidade para os tubarões, pois a abertura era muito pequena e estreita para permitir que eles fossem do mar para esses dois rios. Embora a construção do porto só teve início em 1980, o primeiro grande influxo de navios só começou em 1989-1991. De 1998 a 2008, o número de embarcações triplicou. Essa
intensificação do tráfego marítimo pode ter influenciado a ocorrência de ataques de tubarões, já que esses animais são conhecidos por seguirem navios (Hazin et al., 2008).
Nada na natureza é por acaso, existe uma interdependência em tudo. Ou como diria Eistein “Deus não joga dados”…. Homem aqui faz (depreda) o homem aqui paga…
Paulo Guilherme "Pinguim"
E ainda temos que levar em consideração muito seriamente a pesca de arrasto, ilegal e danosa, de camarão, que passa de madrugada jogando engodo, sangue e restos de animais na água e passa dia seguinte arrastando para cada quilo de camarão, 9 quilos de outros animais, que mortos são jogados de volta às áquas de Boa Viagem. Meus amigos, se isto não atrai ainda mais tubarões, não sei o que o faria…
Paulo Guilherme "Pinguim"
Posso não portar um canudo formal com selo de uma instituição de ensino superior, mas consigo ver claramente por trás dos meus olhos cansados com mais de 30 anos de mar, sol e sal, que podemos afirmar sim, podemos AFIRMAR que este é um dos macro fatores para os ataques concentrados. Não o único e exclusivo, mas um dos maiores, com certeza.
Paulo Guilherme "Pinguim"
Referências Bibliográficas:
Baldridge, H.D. 1974. Shark Attack: A Program of Data Reduction and Analysis. Contributions from the Mote Marine Laboratory Volume 1, Number 2. Alle Press, Inc. Sarasota, Estados Unidos.
Bres, M. 1993. The behaviour of sharks. Reviews in Fish Biology and Fisheries, 3, 133-159
Hazin, F.H.V., Burgess, G.H. & Carvalho, F.C. 2008. A Shark attack outbreak off Recife, Pernambuco, Brazil: 1992–2006. Bulletin of Marine Science, 82(2): 199–212.
Neff, C. & Hueter, R. 2013. Science, policy, and the public discourse of shark “attack”: a proposal for reclassifying
human–shark interactions. Journal of Environmental Studies and Sciences.