(Artigo escrito em conjunto com Mitchel Kipgem)
Respirar. Todo mergulhador formado sabe, ou deveria saber, da importância da respiração para o mergulho. Como nossa expiração é muito mais importante que a inspiração para nossa fisiologia. O acúmulo de CO2 não só diminui nosso rendimento físico como tem o potencial de causar problemas para nosso mergulho, como por exemplo o aumento o gasto exacerbado de ar do cilindro, diminuindo drasticamente a duração do mergulho, o índice de narcose, dores de cabeça, câimbras e enjôos, entre outros.
Porém o que muitos mergulhadores não lembram é que emissões de gases de efeito estufa (GEE), em especial o CO2 em excesso, é extremamente prejudicial ao nosso planeta. Basta pensar nos danos ambientais que os gases produzidos pelo gado da indústria pecuária no mundo causa (CH4), destruindo, junto com outros gases, a camada de ozônio do nosso planeta e conseqüentemente contribuindo para o aquecimento global.
Deixando um pouco de lado a questão antropocêntrica e egoísta, pensando não superficialmente, e sim em ecologia profunda, globalmente, defendemos o sentimento de que deve-se promover cada vez mais ações de compensação de gases de efeito estufa (GEE), e pessoalmente, num nível individual especista, inventariar e calcular a pegada de carbono de cada um de nós frente às atividades que desenvolvemos em nosso cotidiano.
Este é justamente o foco deste artigo: a responsabilidade ambiental do mergulhador como cidadão, como atuantes em atividades coorporativas e inclusive empresariais. O direito a um meio ambiente equilibrado, explícito em nossa Carta Magna, a Constituição Federal de 1988, no seu art. 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. ”
Estou digitando estas linhas no notebook durante a navegação do Titan, belíssima embarcação de mergulho estilo liveabord, e neste exato momento estamos chegando ao arquipélago de Abrolhos, quando escuto Mestre Dingão reduzindo os motores para atracar e então desligando-os. Motores estes que como na maioria absoluta das grandes embarcações, queima óleo diesel, combustível fóssil, o tal vilão ambiental da nossa década.
Fui então, no começo por pura curiosidade, conversar com Mestre Dingão sobre o consumo de combustível dos dois motores do Titan durante uma expedição tradicional de 4 dias, tanto do barco como do gerador, gás de cozinha e gasolina do motor de popa do bote. Justamente enquanto estou conversando com Mestre Dingão, Mitchel, da OSCIP ILAS – Instituto Latino Americano de Sustentabilidade – e o Renato Santoro da Scuba Notícias se aproximaram ao ouvir o papo e entraram na conversa.
Evoluindo o que se tornou um debate, começamos a modelar o consumo de combustíveis fósseis e emissões de carbono com as atividades de mergulho, para gerar uma calculadora de compensação de emissões de carbono.
Mitchel Kipgem
Todos os cidadãos contribuem para o agravamento do aquecimento global, seja através da energia que consomem em casa, das opções de transporte utilizadas nas férias e no dia-a-dia, ou da quantidade de resíduos produzida. Todas as ações e atividades de uma empresa, indústria, corporação ou de um simples cidadão, emitem Gases de Efeito Estufa (GEE). A quantificação dessas emissões constitui a primeira etapa de uma programa de compensação de carbono.
Os projetos de compensação de carbono, além de gerarem percepção de empresa cidadã, demonstram positividade diante de outros produtos que não possuem atividades de eco-eficiência e sustentabilidade. Atestam também a responsabilidade socioambiental e agregam valor a marca que passa a ter um diferencial competitivo no mercado, gerando reconhecimento de clientes e consumidores. Pode ser utilizado como uma estratégia de sustentabilidade para a Governança Corporativa, fazendo com que o valor real da empresa aumente por esta demonstrar respeito ambiental.
Tal quantificação, ou seja, o cálculo das emissões de GEE, é realizada utilizando-se o GHG Protocol, uma ferramenta científica reconhecida internacionalmente que permite avaliar as emissões geradas pelo consumo de eletricidade, transporte de mercadorias, deslocamento de funcionários, geração de resíduos, elaboração de produtos, entre outros.
Após esta etapa, é elaborado um plano de redução de emissões evitáveis baseado na adoção de melhores práticas. Para compensar as emissões inevitáveis, a quantidade de GEE calculada é convertida em número de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica. Essas árvores serão responsáveis pela preservação do solo, da água, da biodiversidade e fixação do carbono emitido a partir do processo da fotossíntese.
Ao aplicar um projeto de compensação de carbono para mergulhadores devemos levar em conta toda a logística da atividade relacionada ao mergulho, como deslocamentos, consumo de energia elétrica, água, geração de resíduos, entre outros fatores que contribuem para as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Nós mergulhadores, que por natureza compartilhamos um forte sentimento ambiental, deveríamos nos preocupar cada vez mais com os impactos que causamos toda vez que fazemos uma saída de mergulho. Cabe a nós divulgar e apoiar ações voluntárias como estes projetos, para que cada vez mais as pessoas se conscientizem da importância de neutralizar os impactos que causam.
A saída dos dias 02 a 05 de novembro a Abrolhos, no Titan, realizada pelo Centro de Estudos do Mar Onda Azul e pela Campanha Divers for Sharks foi devidamente quantificada e compensada. Foram emitidas 4,60 Ton/eq de CO2, sendo para isso necessário o plantio de 31 mudas de árvores nativas para a sua compensação. As árvores foram plantadas na Reserva Extrativista do Cassurubá, com a chancela da empresa Palmares Geoprocessamento Ambiental, do Paraná. Para saber mais sobre projetos de compensação de carbono, acessem o site www.palmaresgeo.com.br e o blog www.programarecompense.blogspot.com.