Paraíso ameaçado
Me espanta ler que um dos paraísos mais preservados no mundo, certamente um dos Top 5 de todo turista marinho, as Maldivas, pretendem liberar a pesca comercial de tubarões em suas águas.
Quando li a manchete do artigo no EuroNews (https://www.euronews.com/living/2021/04/06/shark-fishing-for-profit-could-soon-be-legal-in-the-maldives) achei que tinha confundido o texto e fui conferir, mas infelizmente é verdade.
O texto diz que depois de uma moratória de 11 anos na pesca de tubarões o país agora está estudando liberar a pesca mais uma vez, mesmo os tubarões sendo uma atração turística importantíssima economicamente para esta pequena nação insular.
Sempre a pesca ameaçando o planeta
A pesca comercial de tubarões foi proibida em 2010 após um declínio nas populações, para evitar o extermínio das espécies presentes na ilha. Mas em uma reviravolta recente do governo, discussões estão ocorrendo para decidir se a legalização da pesca do tubarão traria benefícios econômicos, pois “apresenta uma estratégia lucrativa de geração de receita para o estado”, afirmou Zaha Waheed, Ministra da Pesca das Maldivas . Também tem havido preocupações com a superpopulação de tubarões nas águas das Maldivas e recentes ataques de tubarões.
Ora, não acontece superpopulação de predadores, pois a teia da vida e a cadeia alimentar se equilibram em função da oferta de alimento.
“Poucos países implementam a conservação dos tubarões. Uma vez que é um meio de gerar lucro, não temos que nos limitar. [Podemos] abrir [a pesca de tubarão] como uma pescaria controlada por um determinado período e pescar sem colocar em risco a população de tubarões ”, disse ela na Comissão Parlamentar de Assuntos Econômicos.
Assim não há tubarão que aguente
A meu ver esta atitude é completamente errada e precipitada, visto que num primeiro momento a pesca de tubarões pode até dar lucro alto e rápido, mas devido a baixa taxa de reprodução (tubarões são K estrategistas) e por consequência extremamente longa reposição dos cardumes, a pesca seja comercial, seja artesanal não consegue se manter por muito tempo, com as populações simplesmente desaparecendo das águas.
Sabemos que com a crise mundial causada pela Covid19, atingindo econômica e turisticamente paraísos como as Ilhas Maldivas estão passando por sérias dificuldades financeiras, mas matar tubarões é negar o que é afirmado pelos maiores estudiosos do mundo: que um tubarão vivo vale milhares de vezes mais do que morto.
O cientista marinho Callum Roberts disse pelo Twitter “Seria um movimento retrógrado terrível reabrir a pesca de tubarões nas Maldivas justamente quando os frutos de seu sucesso em proteger e conservar tubarões se tornaram maravilhosamente aparentes.”
Recorde malígno
Os 5 maiores matadores de tubarões são Indonésia, Espanha, Índia, México e Estados Unidos, de acordo com o Marine Stewardship Council. São pescados principalmente por sua carne e barbatanas, mas também pela pele, cartilagem e fígado.
Espero de coração que esta medida não aconteça e que ao mesmo tempo esta pandemia de Covid19 seja controlada mediante vacinação em grande escala mundial, tornando a indústria do turismo outra vez forte e geradora de riquezas.
E por fim deixo abaixo texto final do Plano para a Conservação e Gestão de Tubarões nas Maldivas:
“As espécies de tubarão têm taxa de crescimento lenta, maturação tardia, fecundidade baixa, ciclo reprodutivo longo e estão entre as espécies de peixes menos resistentes à exploração intensa. A pesca do tubarão tem um enorme impacto nos dois pilares principais da economia das Maldivas, a saber, a indústria da pesca do atum à linha e a vara e a indústria do turismo. A pesquisa mostrou que um único tubarão colheria mais benefícios ao permitir que vivesse em seu próprio habitat, permitindo que os mergulhadores o observassem repetidamente, do que o único benefício obtido por matá-lo e vendê-lo. Além disso, como os tubarões são os principais predadores, eles desempenham um papel essencial na manutenção do equilíbrio do ecossistema. Pesquisas realizadas por especialistas do Ministério da Pesca e Agricultura mostraram que, com o atual declínio da pesca de tubarão, a continuação da pesca pode comprometer seriamente os estoques de tubarão, afetando os dois principais pilares da economia; indústria do turismo e indústria da pesca de atum com vara e linha. Com base nestas razões, pelos poderes retidos ao abrigo do artigo 10 da “Lei das Pescas das Maldivas” (Lei no: 5/87), o Ministério da Pesca e Agricultura decidiu proibir completamente a captura de qualquer espécie de tubarão da Zona Econômica Exclusiva das Maldivas em vigor a partir de 01 de março de 2010. (MoFA Press release: 30-D2 / 29/2010/32)”