Estudo diz: sem tubarões, sem futuro!
Como publicado dia 19 de abril de 2021 pelo site de notícias da natureza Mongabay, um mundo sem tubarões é uma ameaça verdadeira e muito mais próxima da realidade do que imaginamos, diz Nathan Pacoureau, pesquisador de pós-doutorado no Grupo de Pesquisa Earth to Ocean da Simon Fraser University no Canadá. Pacoureau e uma equipe de pesquisa internacional detectaram recentemente um declínio de 70% nas populações de tubarões e arraias nos últimos 50 anos. Este estudo, publicado na Nature, ressalta a necessidade de acompanhamento internacional na política de conservação de tubarões e arraias, dizem os especialistas.
Apesar da grande mídia de cinema ainda tratar os tubarões como grandes vilões devoradores de homens, eles e suas primas raias são importantíssimos para o equilíbrio dos oceanos e costas, mantendo saudável a cadeia alimentar e a teia da vida nas águas. A perda destas espécies que são predadoras topo de cadeia, ameaça toda a sustentabilidade dos oceanos, segundo os pesquisadores.
- Como muitos outros grupos taxonômicos, os declínios de tubarões e arraias são causados por ações humanas - neste caso, a sobrepesca pela pesca comercial.
- Os especialistas pedem uma proibição de retenção pela UE para evitar o colapso das populações de tubarões ameaçadas.
Mas infelizmente o declínio populacional e risco de extinção não são exclusivos de tubarões e raias. As populações de insetos estão decaindo a uma taxa de 1 a 2% ao ano (lembra quando viajava de carro e a janela ficava com vários insetos mortos no vidro? Hoje não mais!). Aproximadamente 75% das espécies de primatas do mundo estão caindo vertiginosamente. Anfíbios também enfrentam ameaças às suas populações.
Muitos cientistas dizem que essas perdas podem ser o sintoma de um problema maior: uma desconexão entre nosso reconhecimento do declínio da biodiversidade global e nossa disposição de tomar as medidas necessárias para impedi-lo.
Sobrepesca leva ao declínio dos tubarões e aumenta o risco de extinção.
Dados concretos sobre espécies marinhas de alto mar não é nada fácil de se obter e para calcular estas populações várias metodologias são adotas em diferentes linhas de pesquisa.
Pacoureau em seus estudos conseguiu modelar tendências na população relativa de 18 espécies. Eles também compilaram registros de pescarias, disponibilidade de espécies nos mercados de peixes. A conclusão não é nova: A sobrepesca é a maior responsável pela redução das populações de tubarões e arraias na última metade do século.
Muitas cidades do litoral pescam tubarões a centenas, senão milhares de anos, em busca originalmente de sua carne e óleo do fígado. Mais recentemente apareceu o mercado de barbatana de tubarão e de guelras de raias, criando um enorme mercado de tráfico, visto este comércio ser proibido na maior parte do mundo.
Com o passar dos anos e desenvolvimento de tecnologia, a pesca comercial também passou a se beneficiar de técnicas mais pesadas e efetivas, tornando os barcos de pesca industrial ainda mais mortais e destruidores para os oceanos, aumentando tremendamente a pressão sobre espécies oceânicas.
Quanto menores as populações de tubarões e raias se tornam em função da sobrepesca, mais e mais tecnologia se aplica à pesca, tornando a extinção destas espécies como uma conclusão lógico matemática. Só nos últimos 50 anos a quantidade de barcos, redes e outros petrechos de pesca mais que dobrou.
Hoje as taxas de pesca de tubarões e raias, tanto como espécies alvo como pesca acidental são totalmente insustentáveis.
O estudo demonstra que a pesca leva ao declínio das espécies maiores e de reprodução mais lenta primeiro, atingindo posteriormente as espécies menores. E isto numa velocidade muito maior de pesca do que da possível reprodução destes animais. E quando se extinguirem, os pescadores simplesmente procurarão outro alvo, menos valorizado, para seguir pescando.
“Essas quedas acentuadas [de tubarões e arraias] são chocantes até para os especialistas, especialmente quando comparadas às estatísticas de animais terrestres”, disse Pacoureau. “Três quartos dessas espécies icônicas agora se qualificam como ameaçadas de extinção pela [Lista Vermelha da IUCN].”
Em 2010 a ONU declarou os próximos 10 anos como a Década da Biodiversidade, onde os países participantes se comprometeram a reduzir até parar a perda de biodiversidade em seus territórios e proteger os ecossistemas até 2020. Foram criadas e aprovadas as Metas de Aichi pela Convenção de Diversidade Biológica, a Cop CBD, da qual a Divers for Sharks vem participando ativamente. Porém no final da década temática, a própria ONU anunciou que nenhuma das metas Aichi foi totalmente atingida.
“Objetivos e metas internacionais exigem que os signatários cumpram seus compromissos – seja na mitigação das mudanças climáticas ou na conservação da biodiversidade”, disse Derek Tittensor, professor associado de biologia da Universidade Dalhousie, no Canadá, que não esteve envolvido no estudo do tubarão. “Sem as nações intensificando e entregando as ações e políticas necessárias para avançar em direção à sustentabilidade, isso não acontecerá.”
E como ficam os tubarões?
Uma das mais graves e piores falhas nas buscas das metas de Aichi é justamente a queda de mais de 70% nas populações de tubarões e raias. Estas metas não foram atingidas até 2020 e nem até hoje. “Essas espécies estão agora em uma posição precária. Mas desistir de salvá-los seria o maior erro de todos. É importante observar que muitas salvaguardas benéficas já são exigidas por meio de tratados globais de vida selvagem. Um passo inicial relativamente simples é os países membros cumprirem esses compromissos por meio de regulamentações nacionais.” diz Pacoureau
Como sempre, não adianta simplesmente criar acordos, metas e regulamentos internacionais, se a postura dos países participantes das Cop’s não mudar e começarem a desenvolver uma forte vontade política de cumprir estas metas e acordos.
“Por exemplo, o tubarão-mako (Isurus oxyrinchus) pode ser uma das espécies de tubarão mais estudadas e, portanto, mais bem compreendidas. Mas essa atenção não levou à proteção deles. Com base nas tendências atuais da população de mako, o status de conservação da espécie foi elevado para ameaçadas de extinção na Lista Vermelha da IUCN em 2019, forma da categoria anterior de baixo risco de vulneráveis Ao mesmo tempo, a UE se recusa a estabelecer limites satisfatórios para o consumo de mako”, escreve Sonja Fordham, presidente da Shark Advocates International e co-autora do estudo, em uma nota para a Shark League.
Em julho de 2021, a Comissão Internacional para a Conservação do Atum do Atlântico (ICCAT) votará na proibição de retenção do mako, que, segundo Fordham, tem o potencial de mudar o futuro desse tubarão superexplorado e ameaçado de extinção.
O caminho para uma mudança política eficaz pode parecer assustador. Mas tanto Pacoureau quanto Fordham observam que etapas significativas podem começar no nível individual.
“Ao expressar preocupação, por meio de cartas aos legisladores e editores de notícias, bem como às redes sociais e à arte, ou como turista, todos podem ajudar. O apoio vocal e sustentado do público à conservação dos tubarões não é apenas verdadeiramente significativo; é essencial para criar um futuro melhor para esses animais extraordinários. ” diz Fordham.
Citação:
Pacoureau, N., Rigby, C. L., Kyne, P. M., Sherley, R. B., Winker, H., Carlson, J. K.,… Dulvy, N. K. (2021). Meio século de declínio global de tubarões e raias oceânicas. Nature, 589 (7843), 567-571. doi: 10.1038 / s41586-020-03173-9
Imagem de banner de um tubarão de pontas brancas oceânicas em perigo crítico (Carcharhinus longimanus), cortesia de Andy Mann e Trevor Bacon.